sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Recordar é viver..a história do Beterrabocídio e o Erê do Hidalgo


Essa é uma daquelas histórias memoráveis que só um cão faz com a gente. Essa aconteceu quando Hidalgo tinha uns 9 meses e só reinava..bom, até hoje não parou.

Eu tinha prometido contar sobre a primeira vez que confrontei o Erê do Hidalgo. 

Na verdade o Erê foi chegando, chegando, até que “encostou” de vez.

Hidalgo é um cara pacatão, mas quando Erê ta encarnado, sai da frente...vamos ao fato.

Como eu não tenho diarista, eu faço uma rotina semanal de ir no mercado às terças ou quartas, e feira nas quintas, porque não vivo sem vegetais, e meu Hidalgo é ligeiramente vegan.

Bom, fui eu no mercado certa feita, e fiz as compras do mês: ração, material de limpeza, comida, e como tava na promoção e eu tava com um animal de 5 meses em casa, fardos e fardos de papel higiênico, porque toda hora é um pinguinho de xixi aqui, um cocozinho ali, um sofá babado acolá. E papel higiênico ou papel toalha é ótimo nessas horas.

A primeira tragédia grega da semana: Hidalgo descobriu onde eu guardava as coisas de banheiro e como abrir o armário pra pegar aquelas coisas cheirosas e engraçadas. Numa bela madrugada, ele entrou no banheiro, e fez a farra:

- Comeu uma bucha de banho cor de rosa daquelas enormes e eu não achava nem que a vaca tussisse a outra;

- Comeu dois sabonetes com papel e tudo;

- Estraçalhou e bebeu shampoo e creme de cabelo;

- Acabou com duas toucas de banho;

- Achou hilário brincar de esfiapar algodão;

- Destroçou as tampas dos desodorantes;

- Furou todo o tubo de pasta de dentes, que encontrei agonizante no corredor.

Isso tudo, minha gente, enquanto eu dormia a sono solto. A hora do crime deve ter sido por volta de 6 da manhã.

Às 10, quando acordei, fui meio zonza do quarto pro banheiro, pro xixi matinal de praxe. Olho pro lado e vejo o papel roído.

Vem meu cachorro, estranhamente não estava de bafo...ao contrário, recendia a menta americana e guaraná com hortelã. Olhei pro papel: roído; olhei pra pia: cadê as escovas de dentes e a pasta? Olhei de novo: meu deus, cadê o sabonete glicerinado azulzinho que combina com as toalhas? (eu acordo com apenas dois neurônios funcionais).

Finalmente olhei pra cara do cachorro: estranhamente, alem do bafo de hortelã, menta e guaraná, ele estava coberto de fiapos e com as bochechas já empedrando de papier marche.

Sai correndo pra sala, topando com corpos mortos de tubos de pasta de dentes, confetes de sabonete esmagados no chão, flocos de algodão esvoaçantes..Hidalgo tinha redecorado minha casa. Quando chego na sala, quase infartei: ele tinha pego os tubinhos de papelão de 16 rolos de papel higiênico novinhos...e o papel higiênico voava pra tudo que era lado, picado em pedacinhos de cerca de 2 cm. Ele tinha demolido a casa em 4 horas.

Pra piorar, a janela da sala estava aberta e ventava...e cada vez que ventava, toneladas de papeizinhos voavam pela janela, pela fresta embaixo da porta, e o Hidalgo se divertia espalhando cada vez mais a coisa toda.

Claro, óbvio, tive um ataque, sentei na sala e não sabia se ria, chorava, se matava o Hidalgo ou e cometia haraquiri. E o panaca, de bafo de hortelã, sentado numa pilha de papeizinhos, abanava o cotoco fazendo ventinho, e arfava na minha cara cheio de fiapos nas bochechas.

Catei o que podia, raspei o sabonete do piso, peguei todas as lascas de papelão, desgrudei zilhões de fiapos do sofá, colados com baba de cachorro feliz.

Ainda fui limpar o corredor do prédio, e num calor de 60 graus, um sol miserável, nevava na casa dos meus vizinhos.

Merda desfeita, fui contabilizar os estragos: uma bucha eu achei. Cadê a outra? Mal tinha me dado conta disso, e vem o Hidalgo entrando pela porta do banheiro, com ânsias de vomito. Ainda repreendi: se cuspir sabonete cor de rosa eu te enfio o verde goela abaixo.

Mas não. Hidalgo estava expelindo um cérebro. Por deus, se alguém já viu um cérebro, era aquilo que saia da boca do meu cachorro. Meu coração parou. Fiquei em choque. Que raio de doença era aquela? Babesia? Raiva? Gripe suína?

Não, minha gente, era uma bucha. Uma bucha bege, enorme, INTEIRA, subindo pela goela daquele ser, cruza de decorador de ambientes com avestruz. Antes que ele morresse, tirei aquela coisa melequenta de dentro das tripas dele.

Continuei contando as coisas: o que mais ele tinha comido? Álcool? Remédio? Tinta de cabelo? Tudo mais estava ali...mas ai, g-zuiz, cadê a gilete?????????????????????

Vamos contar até agora: infarto 1: eu me mancar, dentro do banheiro, que Hidalgo tinha destruído minha casa; infarto 2: ver a minha sala parecendo uma mistura de praça de guerra com explosão do Pinatubo; infarto 3: ver o animal cuspindo um cérebro (nunca mais compro bucha bege).

E ali, o infarto 4: cadê as porras das giletes? Uma eu achei, cadê a outra?????? E o pânico? Ai, meu deus, ele comeu! Fui pra sala correndo: arrasta móvel pra cá, móvel pra lá...atrás do sofá, a prova: o cabo da gilete roído. Sem a cabeça onde ficam as laminas.

Aí a coisa era séria. Intoxicação por sabão se dá jeito, laminas de aparelho de barba nem a pau. Liguei pro meu marido, liguei pra minha mãe, liguei pra vet. Minha mãe pediu pra eu ter calma, meu marido veio correndo, o vet falou pra eu levar ele pra fazer chapa, de imediato. E se alguém achasse a lamina lá dentro, ia provavelmente ter de operar pra tirar. Meu marido, mais calmo, falou “pera, ele comeu tudo em cima do sofá...vamos virar o sofá pra ver se não entrou nas frestas. Ele não tem cortes na boca, nem na língua”“...5 minutos depois liga o vet, e pergunta a mesma coisa:”ele tem cortes na língua? Ele tem cortes na boca, nas bochechas, nas patas?” não, não, não! “ele tá passando mal, fez xixi, fez cocô?” vomitou sabão, ta normal, fez xixi, não fez coco. Tá alegre, sem dor, sem indisposição “ok, não parece que ele comeu...veja bem, ele só comeu o que tem cheiro. É provável que tenha perdido o interesse na lamina e tenha partido pra outra coisa. Qualquer coisa, leva ele lá. Eu to indo pra clínica, espero você me falar alguma coisa em 30 minutos..depois, se não achar, não tem jeito, vamos procurar dentro dele”.

Nisso eu chorava feito bezerro, agarrada no meu bobão. Ele abanava o rabo e achava uma curtição. Meu marido com uma lanterna na mão e um imã na outra catava pelo chão...e eu chorava cada vez mais. E olhe que não sou de entrar em pânico.

Levantei, resolvi dar água pro bichão. E na porta da sala pra cozinha, pisei na lamina. Foi o corte mais feliz da minha vida!!! E o único bofete que Hidalgo levou.

Meu marido me deu uma água com açúcar, e ele mesmo tomou tb. Eu estava traumatizada, tremia dos pés a cabeça, comecei a contar meu dia pra ele desde a hora que eu tinha acordado (porque quando meu marido saiu, super cedo, Hidalgo não tinha aprontado ainda, tava tudo arrumadinho). Eu contava as coisas e chorava de rir. E depois chorava de alivio, e chorava de nervoso e depois tinha um ataque de riso. E Hidalgo abanando o cotoco...

Tudo ficou bem, eu meio ressaltada, cada barulhinho que ouvia dele ia conferir. Mas o resto do dia transcorre direito.

No dia seguinte, quinta feira, é dia de feira...eu desci e comprei um montão de legumes, verduras e frutas, pq meu bochecha está em fase de crescimento. Aí, bom, fui fazer saladinhas, sopinhas de legumes e etc, separando, claro, pra cozinhar com franguinho, as coisinhas do meu bebê quadrúpede.

Como a casa ainda estava uma zona, fui dando uma ajeitada aqui e ali enquanto cozinhava algumas coisas..ia pros quartos, descolar papel higiênico babado do chão, ou remover das festas do taco os restos de pasta de dente e sabonete...aí passo pelo sofá da sala e vejo uma mancha enoooooorme vermelha (parecia que tinham matado alguém ali).

Eu, que estava ainda traumatizada, tomei um susto: chamei apavorada "Hidalgo, Hidalgo!!" (porque pensei em tudo: comeu uma faca, vidro, gilete, tesoura, sabe deus, no banheiro ele não entrou, mas sei lá, comeu o facão da cozinha???)..aí vem o meu cão com cara de sono despontando do ultimo quarto pintado de vermelho - a boca, as patas, o peito...parecia que tinham dado um tiro de escopeta no infeliz. AAAAAAAAAAAAAAh, quinto infarto..quase morri e corri pra acudir. Ai, meu deus, que você fez, infeliz? Daonde vem essa baba vermelha? Abre essa boca, seu danado! Você comeu o que, agora? O grampeador? A faca da cozinha?

Aí achei o "criminoso" esbagaçado no meu travesseiro: uma beterraba, devidamente destroçada, meio mastigada, meio lambida, tudo imundo no quarto...eu dei bobeira, e ele cometeu beterrabocídio. E como a beterraba estava meio crua meio cozida, estava vermelha, bem vermelha, e o meu cachorro ficou que nem esses poodles de pet uma semana, mas só na parte da frente.

E foi a primeira vez que vi que esse cachorro tem um Erê. Ele só faz os troços ou em dia de faxina, ou em dia de feira. E d. Maria Faxineira Preta Véia agora é malandra. Tranca o banheiro e a cozinha nos dias de faxina, assim o máximo que o Erê pode fazer é estraçalhar panos de chão e comer a poeira todinha qdo ela varre (d. Maria Faxineira Preta Véia desistiu de usar pá de lixo...pra que, se tem o Hidalgo?).


3 comentários:

Batata disse...

Ê, ê... Mizifia Dona maria faxinêra tende que arrespeitá o Erê do Hidalguinho.
É Erê di respeito e boa vontade. Se mizifia não qué que Erê coma as beterraba, entonces compre giló e tome banho com sabão de côco..

Dante è con te disse...

Vejam a injustiça da coisa: Hidalgo quase mata a Ale cinco vezes e ganha foto com carinha carente! Meu Alvinho é um santo, nem faz xixi na rua, porque em Harvard ensinaram que é feio, e fica lá, com cara de assassino em série!! :( Amanhã eu conto do assassinato da Abgail!

ale disse...

Pobre Abgail..e Hidalgo é cínico, coisa que o Alv]ao não é. Só por isso..rsrs...